sexta-feira, outubro 20, 2006

EU JÁ FUI DEE-JAY


OK, faz tempo demais. Foi em 1984, numa casa chamada Rádio Clube. Rolava uma rivalidade entre nós e outra, chamada Radar Tantã. As duas tinham o mesmo formato -- salões enormes, palco, bandas de Brock fazendo show e som na pista. Sabe aquela danceteria que o Prince tocava em Purple Rain? Era igual. Nas pick-ups, era eu no Rádio Clube (depois o Rogério Palomaro entrou para me ajudar) e no Radar, duas figuraças: O Carlito e o Kid.

Mas, no final das contas, eu e o Carlito ficamos bem amigos. Teve um show do Ritchie no Radar em pleno domingo. Fui conferir, pela primeira vez, a concorrência. Acabei conhecendo o Carlito, que era dono de uma cultura pop razoável e gostava muito do Robert Palmer, sabia muito de música. Aí, criamos uma rotina. Nas folgas do Radar, ele ia ao Rádio Clube. Nas do RC, eu ia ao Radar.

Ah, e quando as duas casas estavam fechadas, a gente ia ao Rose Bom Bom. Quem fazia o som era o próprio Angelo Leuzzi, o dono, com o Jaiminho -- esse cara que tinha um topete igual ao do Brian Seltzer, do Stray Cats. Ele andava com dois outros que eram sósias dos outros integrantes da banda. Fiz amizade com um deles, o Gilberto, que namorou uma amiga.

Voltando ao Rádio Clube. Ficava em Pinheiros, o público era bem maurício e a New Wave estava bombando. E tome camiseta laranja-cítrica. Jeans stone-washed. E tênis quadriculados (na Inglaterra, esses tênis eram símbolo do movimento two-tone, no qual bandas de Ska, como o The Beat e os Specials, misturavam músicos brancos e negros; aqui no Brasil, era só moda).

Não podia tocar música disco ou funk. Até experimentei tocar algumas coisas assim, mas não deu. O público não queria. Todo mundo queria fazer um movimento repetitivo, com os braços semi-estendidos, para um lado e para o outro, como se estivessem balançando freneticamente uma bandeja imaginária...

Então, essas eram as dez músicas que mais agitavam a moçada:

Legal Tender – B-52’s
Time Out For Fun – Devo
Private Idaho – B-52’s
Rebelde Sem Causa – Ultraje a Rigor
Footloose – Kenny Loggins
Corações Psicodélicos – Lobão
Pro Dia Nascer Feliz – Barão Vermelho
Start Me Up – Rolling Stones
Óculos – Paralamas
Rebel Yell – Billy Idol

Foi uma experiência incrível. Pela primeira vez, percebi que eu poderia perceber o que as pessoas gostavam, sem necessariamente gostar daquelas coisas. Tanto é que a minha listinha favorita para dançar era essa aqui, que rolava mais tarde da noite:


What Difference Does it Make? – The Smiths
Thieves Like Us – New Order
Sunday, Bloody Sunday – U2
Bedsitter – Soft Cell
Transmission – Joy Division
Book of Brilliant Things – Simple Minds
The Lebanon – Human League
Bambina – Lobão
Los Niños Del Parque – Liaisons Dangereuses
London Calling - The Clash

Estávamos em 1984. Mas, se você olhar a lista das favoritas, há poucas músicas daquele ano. Vamos lá:

Legal Tender – B-52’s é de 1983; Time Out For Fun – Devo, é de 1982; Private Idaho – B-52’s é de 1981; Rebelde Sem Causa – Ultraje a Rigor, essa sim, é de 1984; Footloose – Kenny Loggins é de 1983; Corações Psicodélicos – Lobão é de 1984 também; Pro Dia Nascer Feliz - Barão Vermelho é de 1983; Start Me Up – Rolling Stones é de 1982; Óculos – Paralamas, OK, é de 1984; e Rebel Yell – Billy Idol é de 1983.

No Radar não era diferente. Pq isso aconteceu? Pq a New Wave já era meio velhinha lá fora. A saída, então, foi buscar algumas músicas antigas. Por conta disso, em 1984, as rádios começaram a tocar músicas de alguns anos atrás, que eram meio desconhecidas do público. Isso tudo, de alguma forma, nasceu lá no Radio Clube e no Radar Tantã e se espalhou pelo país.

Ah, em 1985 eu fazia eventualmente som no Madame Satã, quando o Marquinhos e o Magal me deixavam brincar um pouco. O playlist era bem diferente do RC.

Qualquer dia eu escrevo sobre o Madame Satã.