domingo, agosto 13, 2006

REFLEXÕES SOBRE A PISTA DE DANÇA E A TIMIDEZ

Primeira pergunta: vc já viu o 'Dança dos Famosos' do Faustão? Pois bem. Eu vi quase todos os programas. Sigo as eliminações de Babi, Hortência e Preta Gil com a mesma fidelidade com a qual não perco um episódio de Lost ou 24 Horas. Adoro ver as bailarinas ensinando aqueles marmanjos sem cintura a rebolar. E confesso: torci para o Stepan Nercesian. Motivo oficial: sou fã dele desde que assisti o filme 'Marcelo Zona Sul'. (Mentira. O motivo verdadeiro é que me identifico demais com aquela pança!). Foi vendo o 'Dança dos Famosos' que me lembrei da época das discotecas, quando dançar era MUUUUUITO importante e acabei recordando de quando eu tive de ser professor de dança.

Segunda pergunta: Você já experimentou dar aula de dança para alguém? É uma das coisas mais irritantes da face da Terra. Cada pessoa tem seu próprio jeito de dançar – e passar isso para outro corpo é virtualmente impossível, a não ser que seja um passo de dança, daqueles universais, inventado justamente para ser passado adiante.

Bem, eu tinha quinze anos e um amigo meu, super-tímido, tinha me pedido aulas de dança. Como eu disse, era uma época em que todos queriam dançar. O ídolo do cinema era John Travolta (o canastrão de Saturday Night Fever, não o homônimo que deu um show em Pulp Fiction) e a novela das oito era 'Dancing Days'. Precisa descrever mais alguma coisa para vocês entenderem o cenário?

Mas o meu amigo não queria aprender só os passos. Queria saber como dançar. E queria o pacote completo – ou seja, não só como dançar, mas também como se aproximar de uma garota, como paquerar, o que dizer... Um verdadeiro intensivão do acasalamento.

Na sala da minha casa, botei umas músicas no toca-discos (olha como essa história é velha) e ensinei algumas manhas. Contei alguns segredos da aproximação. E ele foi embora feliz e contente.

Na primeira chance que teve para botar os conhecimentos recém-adquiridos na pista de dança, tudo estava indo bem. Ele mirou num alvo – uma loirinha de franja que, surpreendentemente, estava dando bola para ele – e foi à luta. Por alguns minutos, ele se sentiu numa espécie de disco-paraíso, embalado por ‘Heaven Must Be Missing Na Angel’, do Tavares. Quando essa música acabou, o dee-jay tascou, ironicamente, Disco Inferno, dos Trampps.

Foi aí que a sorte dele mudou. Estava quente pra burro, e os óculos que ele usava começaram a embaçar. Não se dando por vencido, ele tirou os óculos e os enxugou – mal e porcamente, é verdade – na camisa de voil. Depois de quinze segundos, tudo embaçado de novo. Ele pensou: ‘vou tirar essa porra’. E colocou os óculos no bolso.

Sem enxergar um palmo à frente do nariz, continuou na pista. Achou, inclusive, que iria se dar bem com a gatinha – até ser avisado por um amigo que estava paquerando o pôster da Olívia Newton-John que fazia parte da decoração.

Desnecessário dizer que ele terminou a noite pagão.

Hoje, para minha total surpresa, ele é um quarentão separado que azara as meninas nas pistas de dança em lugares cuja média de idade mal passa dos 20 anos. Ele chega sozinho, escolhe alguns alvos e vai à caça. Quer saber de uma coisa? Ele se dá super bem. E os óculos não embaçam.

Só pude chegar a uma conclusão: a timidez é que faz a vista embaçar (com ou sem óculos).